Thursday, April 9, 2009

A Força Goesa: Perseverança pelas Monções do Palco Nacional e Internacional

Por R J Reed
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A Força Goesa: Perseverança pelas Monções do Palco Nacional e Internacional

No início do século XX, Goa, a pequena colônia Indiana, estava nas mãos de Portugal e, no mundo, as idéias criadoras de modernismo se espalhavam. No mesmo período, nasceu um futuro autor goês, cujos escritos se preocupariam com os problemas da sociedade e adotariam as formas, ou a falta delas, de modernismo; aquele autor se chama Laxmanrão Sardessai. Nascido em 1904, Sardessai “representa uma nova direção na poesia goesa não só em termos dos assuntos abordados, mas sobretudo na forma adotada” (Williams 118). Em seus poemas, ele demonstra ser um autor “de fortes preocupações morais” (Devi 224), “intelectual, de conceitos abstractizantes e intimistas” (Williams 118). Sardessai escreve poemas lindos com bastante simbolismo e subjetivismo. Será o propósito deste trabalho demonstrar como Sardessai utilizou a forma para criar e enfatizar o assunto de sua mensagem em seu poema “Eu cresço em força.”

1 Eu cresço em força. . .
2 Quando vejo os outros desfalecerem
3 Porque sei que a minha força
4 Um dia irá insuflar neles
5 Novo sopro e nova vida.
6 Podem cair todos, todos,
7 Se eu continuar firme e forte
8 Como o monte que não se abala
9 Quando vê cair, pelo varrer da tempestade,
10 Todas as árvores
11 Que cresceram no seu dorso.
12 Podem cair todos, todos,
13 Que da poeira da sua queda
14 Surgirão outros
15 Mais fortes, mais fortes. . .

Forma

A rima da obra é muito ocasional - linha um com três e linha seis com doze - e nestes casos são repetições da mesma palavra.

Apesar de ser verso livre na rima e número de sílabas, Sardessai ainda utiliza o número de sílabas para modificar e enfatizar a mensagem. Somente quatro linhas contem quatro a cinco sílabas, inclusive a primeira e as duas últimas. Há nove linhas com sete a oito sílabas das linhas três a oito e onze a treze, deixando apenas duas linhas com maior número: linha dois e nove. As idéias encontradas em todas menos estas duas falam da força do narrador, sua capacidade de dar nova vida e a habilidade de outros surgirem. Linha dois fala dos outros ao desfalecerem e linha nove do cair das árvores: o fato destas linhas terem dez e treze sílabas, mais do que qualquer outras linhas, faz-as linhas anormais e, ao mesmo tempo, chama a elas atenção.

O poema é semi-quiasmático, com as linhas e as idéias nelas contidas. Fica óbvio que a força do narrador espelha a força dos outros e o seu desfalecimento contraria o surgimento, etc.

1 Força do narrador
2 Outros desfalecem
4-5 Insuflar novo sopro
6 Podem cair todos
7 Firme e forte
8 Como o monte
12 Podem cair todos
9 Varrer da tempestade
14 Surgirão outros
15 Mais fortes (outros) 


Com tanto o quiasmo como o próprio número de linhas centralizando as linhas sete e oito, dão-lhes ênfase. É interessante que o único adjetivo com falta de confiança usado para descrever o narrador, ‘se’, encontra-se em linha sete. Durante o resto do poema, Sardessai pinta um narrador forte, que resgata outros e dá-lhes nova vida. Com a conjunção ‘se’, ele propõe sutilmente que a firmeza do narrador, pelo menos por este instante, acha-se em questão - que o há possibilidade de não “continuar firme e forte, como o monte que não se abala,” e, ao mesmo tempo, enfatiza a firmeza e força do monte - a que o narrador se compara - que não se abala, nem na tempestade.

Existe a assonância do vogal ‘o’ nas linhas dois, cinco, seis, oito e doze; e do ‘a’ nas linhas três, dez e treze. A assonância nestes casos ressalta as imagens ilustradas e aumenta o sentimento das idéias destas linhas.

Em todo o poema, as idéias de força e de todos se repetem muito; vemos isto mais fortemente nas linhas seis, doze e quinze as palavras ‘todos’ e ‘mais fortes’ seguem-se. Repetirem assim pontua a idéia principal - que todos podem cair, mas, com sua força, o narrador poderá fazer os outros mais fortes - até mais fortes do que a tempestade.

Sardessai também faz uso do símile para fazer poderosa comparação do narrador e dos outros. O narrador é representado pelo monte “que não se abala,” e os outros pelas árvores no dorso do monte. O uso de ‘todas as árvores’ é outra ligação que os outros têm com as árvores, visto que todas as outras referências de ‘todos’ referem-se aos outros.

Assunto
O assunto abordado pelo autor é, primeiramente, discreto. Como personagem principal, há o narrador com força tal que consegue dar “novo sopro e nova vida” aos outros que desfalecem - por isso, não é tão importante se os outros falham, desde que o narrador não o faça. Sardessai viveu durante a época da transição de Goa das mãos de Portugal à União Indiana - até foi o primeiro poeta fazer isso (Williams 118). Durante os séculos anteriores até o XX, Goa e seu povo haviam passado por muitas dificuldades mas sempre os tinham perseverado, e parece que nos anos conduzindo até a inclusão goesa na União Indiana, havia muita inquietação - tanto dos goeses como dos indianos. Em “Eu cresço em força,” o narrador representa Goa, seu povo e espírito indominável, enquanto ‘os outros’ sempre mencionados, representam os indivíduos e grupos goeses que trabalham, sofrem e sacrificam-se para o bem do país - mesmo que assim caem “pelo varrer da tempestade” de alguma forma. Goa e o espírito de seu povo continuará a viver e crescer em força, independente das tempestades que vem - ou seja, as dificuldades, tanto externas como internas, que Goa enfrenta podem derrubar até todos, mas surgirão outros mais fortes que as vencerão. Embora a montanha e a árvore tenham simbolismo ligado aos deuses e religião hindus, é agora óbvio que o monte é Goa e seu povo, as árvores os goeses lutadores e reformadores e a tempestade são os desafios encarados (como a resistência à sua integração à União Indiana - embora a resistência portuguesa tenha acabado sendo muito fraca).

Faz-se claro como a forma supramencionada focaliza a atenção do leitor na mensagem: as linhas com sílabas numerosas ilustram como o fracasso goês não é o normal; o quiasmo e número de linhas centraliza no fato que Goa e seu povo são “como o monte que não se abala” e, ao mesmo tempo, chama a atenção do dito povo com a conjunção ‘se’, dizendo a ele que, se ficar firmes e fortes ao enfrentar os problemas sociais, não cairá; repetição enfatiza o fato de que muitos, e até todos, dos que lutam para melhorar o país podem cair mas, se juntos e fortes perseverarem, vencerão; e o simbolismo é forte imagem com que os goeses podiam se relacionar. Tudo isto combina para fazer desse poema, e de outros de Sardessai, um grande instrumento na arena social.

Obras Citadas
Williams, Frederick G. Poetas Da Ásia Portuguesa: Goa, Macau, Timor Leste. Provo, Ut: Brigham Young University, 2009.

Devi, Vimala and Manuel de Seabra. A Literatura Indo-Portuguesa. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1971.

Thursday, April 2, 2009

Universal: A Fome de Quarto de Despejo

Por R J Reed
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Universal
: A Fome de Quarto de Despejo
Todos têm que respirar. Todos têm que tomar água. Todos têm que comer para sobreviver. Todo mundo quer uma vida feliz. No seu livro “Quarto de Despejo,” Carolina Maria de Jesus trata da universalidade da vida e da luta do dia dia. Nem todos passam fome, mas todos ficam com fome; têm que comer. É universal. Diz-se que o orgulho é o pecado universal. Maria revela que o preconceito é um pecado que é quase universal, pois existe até na favela. Demonstra-se no livro que o preconceito de raça, sexo e de classe social que os favelados têm não é muito diferente do preconceito dos de classes mais altas.

Maria distingue entre todas as raças da favela: Negro, branco, cigano, nortista e baiano. Pelo livro todo ela refere a muitas pessoas pela raça ou cor. Ela também dá a cada raça certas características. O branco é rico e persegue os pobres. O negro é pobre. Os nortistas são malandros, etc. Mesmo que ela e seus colegas sejam do nível mais baixo da sociedade, têm preconceito de raça - como os de classe mais alta.

Homens são todos preguiçosos e causam problemas. Toda mulher é fofoqueira e se mete na vida dos outros. É assim que os homens e mulheres são retratados no livro. Maria decide que nunca se casará porque ela vê todos homens como problemas. Ela olha a todas as mulheres como aborrecimentos, irritações. Esse preconceito que ela demonstra não é muito diferente do que é comum entre classes mais altas - preconceito que deixa as mulheres com salário menor e vê os homens como burros.

Os ricos têm orgulho por serem ricos e terem mais do que os pobres. Os pobres têm orgulho por não serem ricos e por não terem orgulho. Maria dá várias exemplos em que os ricos desprezam os da favela. Ela conta a história de uma mulher que pediu esmola da dona de uma casa. A dona deu ratos embrulhados, sem a pobre mulher saber até chegar em casa (55). Os ricos preferem jogar comida fora do que dar aos pobres. Os da favela não são muito diferentes. No ponto de vista deles, os ricos lhes odeiam e não se importam com eles, nem um pouco. Os políticos vêm somente nos anos eleitorais e, depois de ganhar o voto dos favelados, esquecem-se das favelas. Os preconceitos dos dois grupos vêm de perspectivas diferentes, mas se compõem da mesma coisa.

O preconceito não reconhece classe, não reconhece raça e nem reconhece sexo. No seu livro, Carolina Maria de Jesus demonstra, com o preconceito racial, sexual e social, que os favelados vêem o mundo com os olhos de preconceito tão como a maioria das pessoas.

A questão do preconceito é algo que sempre seguirá a humanidade. Quase todo mundo, obviamente, tem preconceito. Para Maria, é difícil não ter porque ela vê o mesmo tipo de pessoa fazendo a mesmo coisa todo dia. Por exemplo, quase todos os homens da favela são preguiçosos de verdade - não trabalham. Quase todos eles batem na esposa e nos filhos. Quase todas as mulheres gostam de falar mal uma da outra. Quase todas elas desprezam os filhos de Maria. Ela vê esses grupos desse modo, mas é provável que na vida dela tenha sido assim que a maioria deles tinham sido.