Wednesday, March 25, 2009

Memórias de um Sargento de Milícias: Obra Romântica

Por R J Reed
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Memórias
de um Sargento de Milícias: Obra Romântica
“Era no tempo do rei” em que se passa a história das Memórias de um Sargento de Milícias. No livro o leitor vê a fuga de um sargento para as suas memórias pelos olhos do narrador. O próprio título denota a fugacidade e as saudades de um tempo anterior, seja que for o dito sargento. A história contem muitos elementos realistas – mas seu autor, Manuel Antônio de Almeida a escreveu durante a época romântica. Será que o livro é um romance disfarçado como obra realista? Sim. Mesmo que as memórias do sargento sejam realistas, deve se considerar a obra também romântico por vários motivos, tais como a fuga do exagero do romantismo, a valorização da malandragem e o verdadeiro amor.

Junto com o título, a primeira frase dá um sentimento de fugacidade, e, seja do Leonardo ou seja de Almeida, um sentimento de saudades. Neste contexto se precisa lembrar de que o ideal é relativo e pode ser diferente para cada um. Durante a história Almeida traz o leitor para o passado e descreve, detalhadamente, várias pessoas e suas vidas entrelaçadas – tudo isto fiel à realidade. A descrição deste tipo se relaciona com o realismo, porém, o romantismo também contem bastantes descrições detalhadas, com a diferença de que são muito idealizadas. E se o ideal fosse a realidade? Com suas ótimas descrições de gente real, Almeida foge do exagero do romantismo para outro ideal – o ideal do real. Mesmo que o passado não fosse ‘melhor’ do que o presente de Almeida, ele tinha saudade do tempo e sua realidade.

Fora do padrão da época, a história trata das classes médias e baixas. Por que os autores da época tratavam da burguesia? Destinava-se como a sua audiência, as mulheres principalmente, e a burguesia era o ideal. Como foi mencionado em cima, se o ideal é a realidade, seu ideal também pode ser real e romântico ao mesmo tempo.

Entra na história um elemento de nacionalismo. Cria-se um herói brasileiro – não exagerado mas mesmo assim verdadeiro, real. Este herói é o Leonardo e ele acaba representado o verdadeiro brasileiro. Ser herói tem que significar armadura brilhante ou espada grande? Não, basta ser bom de coração e vencer seus desafios. Em toda a malandragem praticada por Leonardo ele nunca quer mal a ninguém. Ele tem amor pelo jogo em si – é malandro por ser malandro e só isso. Há valorização da malandragem e, mais especificamente, do jeito. Há muitos instantes durante a história em que se usa o jeito para conseguir algo de nada, por exemplo: o perdão do Vidigal para Leonardo e o seu pai, o arranjo do abaixamento para sargento de milícias, o padrinho como médico, o Leonardo Pataca e suas combinações com Chico-Juca, a aliança contra José Manuel e o José Manuel para com a Dona Maria e a Luizinha. Nem todos os personagens usam este jeito para conseguir algo honestamente – mas Leonardo se levanta acima dos outros como herói por seu bom coração.

Há um grande exemplo do cavalheirismo do herói no final da história. Durante o livro todo o leitor chega a conhecer safadeza depois safadeza. O Leonardo sobrepuja este padrão e consegue demonstrar verdadeiro amor quando ele e Luizinha “[amam]-se sinceramente; e a idéia de uma união ilegítima os [repugna]. O amor os [inspira] bem.” Este leva o Leonardo a se abaixar para sargento de milícias para que possa ter esta união legítima com seu verdadeiro amor, a Luizinha. Almeida conclui que “o último amor é que é o verdadeiro, porque é o único que não muda.” Ninguém neste romance realista consegue fazer isto menos eles e Leonardo se mostra como o verdadeiro herói desta realidade.

Almeida, com sua história Memórias de um Sargento de Milícias, demonstra que a realidade também pode ser romântico.

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