Wednesday, March 25, 2009

São Bernardo: O Alcance das Idéias nas Relações Humanas e na Sociedade

Por R J Reed
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São Bernardo: O Alcance das Idéias nas Relações Humanas e na Sociedade

No dia 27 de outubro de 1892 Graciliano Ramos nasceu em Alagoas. Com sua juventude cheia de mudança, Ramos chega a conhecer muitas pessoas e personalidades que contribuiriam às suas futuras obras. Casa-se duas vezes, pois a primeira esposa morreu no parto, e teve oito filhos em total. Durante a vida ele presenciou mudança, dificuldade, doença e morte-todas na própria família. Talvez sejam estas experiências que o deram uma preocupação tão grande com a situação e as relações humanas – preocupação tal que o levaria à prisão durante a ditadura de Getúlio Vargas. Uma compreensão e discernimento profundos se revelam na literatura dele, e São Bernardo não é exceção. No livro, Ramos usa o personagem de Paulo Honório e seu comportamento para com Madalena, Padilha e outros para demonstrar o efeito do capitalismo e da ambição nas relações familiares e na sociedade.

Paulo Honório começa a vida humildemente mas com sorte e trabalho, ele ascende a escada social. No processo ele acaba vendendo seu caráter e sua humanidade para o dinheiro e o poder. Para ele, todo negocio tem um benefício, uma vantagem, e tudo existe para ser dominado e aproveitado - até o casamento e a própria esposa. Logo no início é óbvio que o capitalista não possui amor pela Madalena. Com o tempo observa-se a ‘coisaficação’ dela - Madalena se torna mais um objeto que precisa ser controlado. A bondade e simpatia dela são demais para o dono da fazenda - esmolas e auxílio ‘extra’ são perda de recurso. A ambição pelo dinheiro o transforma em bruto sem coração. Paulo, com a tragédia da morte de Madalena, reflete na situação com sua razão retornada, “A culpa foi minha, ou antes, a culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste” (117). Ramos mostra, por meio do Paulo, como as idéias do capitalismo transformam muitos em ambiciosos sem alma, perdendo sua humanidade e estragando os relacionamentos familiares.

Idéias são perigosas e Paulo Honório sabe disso. O seu tratamento do Padilha demonstra tanto este fato como o de que o dono de São Bernardo representa um verdadeiro ditador. Em vez de mandar Padilha embora de uma vez, ele deixa que dependa dele. Mais do que isso, Paulo faz com que ele sofra por um tempo até cooperar. Com este caso, Ramos critica a ditadura de Vargas diretamente. Um ditador, como Paulo, considera os com idéias diferentes como terroristas e não quer acabar com eles de uma vez - com idéias fica mais complicado. O ditador quebra a pessoa, sua determinação e a idéia pouco a pouco. Ramos aponta à crueldade e à desumanidade de Vargas e critica o sistema; Paulo reflete: “ Creio que nem sempre fui egoísta e brutal. A profissão é que me deu qualidades tão ruins” (221).

Se a submissão e ‘coisificação’ se aplicam à Madalena e ao Padilha, aplicam-se primeiramente aos empregados de São Bernardo. Trata e chama os empregados de bichos de carga - até o único homem que Paulo considera amigo, Casimiro Lopes, tem, na mente dele, “faro de cão e fidelidade de cão” (19). Ramos quer dizer que, no sistema do capitalismo, a sociedade vira uma verdadeira representação da teoria vindo do trabalho de Charles Darwin: “A sobrevivência dos mais fortes.”

O livro São Bernardo contem as mesmas idéias ‘perigosas’ que Padilha tem contra o capitalismo - e suspeitando ou não, Graciliano Ramos mais tarde ficaria no lugar de Padilha: preso por um ditador. Ramos usa sua história e os personagens dela para demonstrar que perigos
o capitalismo introduz na sociedade e nas relações humanas.

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