Wednesday, March 25, 2009

A Capoeira: A Liberdade

Por R J Reed
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A Capoeira: A Liberdade

É uma luta como dança. É uma dança como luta. É muitas coisas num só jogo e ao mesmo tempo é nada. É a Capoeira e uma definição dela é tão misteriosa, tão astuta como a sua origem e o próprio jogo. Ela vem se desenvolvendo e se transformando até chegar nos bairros de todo o mundo hoje. Porque a Capoeira tem tanto êxito? Talvez tenha algo a ver com a liberdade que proporciona aos seus jogadores. Por vários motivos a Capoeira, mais do que tudo, é a libertação - motivos tais como o auxílio fornecido aos escravos, aos jovens da rua e ao providenciar um meio de manter a saúde.

Uma História
Como supracitado, a origem da Capoeira tem múltiplas histórias e existem várias teorias a seu respeito. Os argumentos de origem revolvem ao redor da base de continente: O Brasil versus A África. O Brasil recebeu seus primeiros escravos africanos em “São Vicente, em 3 de março de 1533, no qual Pero de Góis pede ao rei ‘dezessete peças de escravos’” (Bueno 115). De acordo com certas teorias, os africanos vieram da África já tendo a Capoeira, ou outro ritual parecido, como costume. Ao serem subjugados ou depois, ao resistir dos quilombos, transformaram seu costume para forma de lutar (Tigges 29-32). Outras teorias mantém que a Capoeira foi criada no Brasil, mas todas as histórias mais populares cruzam no Quilombo dos Palmares, símbolo da maior resistência escrava.

Os quilombos eram cidades fundadas por escravos fugidos e o Quilombo dos Palmares se compunham de mais de dez cidades no sertão de Alagoas (Bueno 115). Lá os negros desenvolveram a luta que hoje se chama a Capoeira. Os bandeirantes empregados para encontrar e destruir os quilombos estavam pesadamente armados e enfrentavam negros armados com nada mais do que o próprio corpo. Burlamaqui descreveu a forma de lutar dos negros como “the use of strange leg, arms, trunk and head movements with such agility and violence, capable of giving them incredible superiority” (Tigges 27). A resistência do Quilombo dos Palmares foi causa nobre, mas finalmente acabou depois de 67 anos.

Os negros recapturados levaram uma arma com eles, uma arma que acabariam compartilhando com outros escravos. É óbvio que nenhum dono gostasse de que os seus escravos afiassem suas habilidades de lutar - por isso os escravos disfarçaram sua luta como dança e jogo. A roda foi desenvolvida para obstruir a vista de qualquer pessoa de fora. Canções e instrumentos foram acrescentados e o ritmo do jogo se tornou mais devagar. Os negros, usando roupa branca, talvez por razões religiosas, tocavam o chão com somente os pés, as mãos e a cabeça e assim não deixavam que se sujassem (Samuels 121).

A escravidão encontrou seu fim no ano 1888 e os negros, na rua e sem emprego, lutavam para sobrevivência. Porém, muitos conseguiram “by their wits, by deception and evasion, and perhaps in small part through Capoeira as an outlet and an act of solidarity (Merrell 31). Muitos partiram a usar a Capoeira para malandragem, e o termo chegou a ser sinônimo com capoeirista. Quanto ao capoeirista malandro, Merrell diz que ele começou com “two strikes against him. He was born a slave or in poverty, and he was not of European racial and ethnic origin.” Merrell também acrescenta que o capoeirista malandro tinha que virar tradições culturais de cabeça para baixo e precisava improvisar. Maltas de capoeirista se formavam e usavam a luta para roubar (Merrell 8). A prática da Capoeira foi proibida por anos até a ditadura de Gertúlio Vargas.

Em 1932 Mestre Bimba abriu a primeira academia legítima da capoeira. Ele modificou certas coisas da tradicional e criou a Capoeira Regional, mais rápida e moderna. Mestre Pastinha, pouco tempo depois, promovia a Capoeira Angola - mais lenta e tradicional. Tanto em uma como na outra há códigos rígidos de conduta e oportunidades de avanço. A arte marcial foi crescendo e se desenvolvendo e acabou indo à Europa e aos Estados Unidos na década de 1970.

Libertação da Escravidão
Desde o início, o objetivo principal da Capoeira tem sido a resistência e a liberdade. Isto chegou a incluir não somente a liberdade da escravidão, mas a liberdade de viver: “Capoeira became a means for survival. It was a pure expression of denial: denial of bondage, denial of the colonial system” (Merrell 4-5). Capoeira era ferramenta liberadora nos anos depois da escravidão também. Os negros ainda se encontravam reprimidos e muitos escolheram a Capoeira como forma de resistência. Nem em todo caso a luta libertou os que faziam, mas servia como meio de ‘ser’ Africano ainda que os donos tentavam destruir a tradição. No final a Capoeira foi a ave cujos asas levaram muitos para uma vida melhor. Talvez estas letras de uma música de Capoeira venham pouco alteradas:

“A liberdade
tantas vezes sonhada
era agora realidade
chegou a meta final, camarada!
liberdade . . . liberdade”
(Merrell 31).

Libertação da Rua
A Capoeira tem feito círculo. Antes era forma de sobreviver, praticando a malandragem. Hoje se transformou em meio de se livrar da rua e seus círculos viciosos. O código rígido e a disciplina que vem da Capoeira ensinam a muitos jovens um modo mais alto de viver. Jelon Vieira, um mestre da arte marcial, não permite que seus alunos “drink, smoke, or use drugs, and encourages them to do well in school. They admire and respect him, so they comply with any request or demand.” Vieira diz que a Capoeira “teaches self-respect, self-control, discipline, and respect for life." (Samuels 121). O jogo muda a vida dos que o fazem para o melhor.

Libertação da Mau Saúde
Quem já fez um treinamento de Capoeira sabe que o jogo exercita músculos que eram antes desconhecidos. É bom exercício. Para muitos que levam vidas sedentárias, a Capoeira é uma fonte atraente de um corpo mais ágil, bonito e forte. Catharine Catham, escritora para The New York Times, gosta de praticar esportes mas percebia algo: “These sports left me in one tight knot. I’ve never been able to touch my toes or do anything close to a split. I wanted to increase my flexibility and coordination” (Catham). Novos capoeiristas descobrem que um treinamento só pode os deixar exaustos. “Capoeira will push your cardio to the max while stressing balance, flexibility, and strength” (Kalish).

Libertação de Outros Tipos
Dançar é divertido mas a rigidez pode ser demais. Uma dançarina, Tamieca McCloud já descobriu isto; ela vê a “Capoeira as a sport that freed her from her very specific training as a dancer” (Scott 30). Porque “no true jogo is choreographed, no matter how much it may appear to be,” a improvisação reina na roda e liberta o capoeirista da rigidez da formalidade (Cassity 32).

A auto-confiança que vem da arte marcial brasileira liberta do medo. Embora pareça bonito e suave, o jogo da Capoeira não se considera luta à toa. “It's effective self-protection because you learn to read others, as well as develop killer ways to kick them” (Kalish). O capoeirista não é escravo do medo pois sabe se defender e improvisar.

Há vezes em que palavras não bastam, em que a expressão precisa de mais do que isso. Por meio da Capoiera, jogadores conseguem dizer o que as palavras não podem. “Capoeira is a language. It's a dialogue” (Samuels 121). Ainda que seja ótimo para o corpo, a Capoeira é tanto mental e espiritual como física. É um meio de se livrar do silêncio sem dizer nenhuma palavra.

Apesar de serem designados como raça inferior, os negros tem se demonstrado ser fortes. “Capoeira is a symbol of strength of a people to survive against all odds, of freedom, and of constancy through change” (Tigges 8). Para os escravos que a praticavam a fim de resistir significava esperança e, para alguns com sorte, a liberdade; para os negros recentemente libertos, significava um meio de sobreviver; para as pessoas no mundo de hoje, significa um hálito de ar fresco. Para o autor, a Capoeira também significa a liberdade. Dá a sensação de poder voar e se expressar em outra língua. A Capoeira é voador! A Capoeira é liberdade.


Obras Citadas:

Bueno, Eduardo. Brasil: uma História. São Paulo: Ática, 2003.

Cassity, Jessica. Brazil's Battle Dance. Dance Spirit; Feb2002, Vol. 6 Issue 2, p32-32, 1p, 3c

Chatham, Catharine. "Too beautiful to be a fight and much too graceful to be dangerous." The New York Times (Dec 22, 2000 pB47(N) pE50(L) col 1 (35 col): E50(L). Academic OneFile. Gale. Brigham Young University - Utah. 27 Feb. 2008.

Kalish, Jacob. Dance of Death. Men's Fitness; 08934460, Oct2004, Vol. 20, Issue 9

Merrell, Floyd. Capoeira and Candomblé. Vervuert: Markus Wiener Publishers Princeton, 2005.

Samuels, Shayna. CAPOEIRA. Dance Magazine; Dec2001, Vol. 75 Issue 12, p66, 5p, 1c

Scott, Ali Ryan. The Beat of a Different Drum. Heart & Soul; Sep2002, Vol. 9 Issue 7, p30, 1p, 2c

Tigges, Gabriela B. The history of capoeira in Brasil. August 1990.

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