Wednesday, March 25, 2009

O Quinze: A Mente Humana

Por R J Reed
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A Mente Humana

Como é que o ser humano pensa durante momentos de imensa dificuldade? Este é um retrato abordado por Rachel de Queiroz em seu livro O Quinze. Queiroz não retrata todos os ricos como maus e todos os pobres como bons - vejamos como exemplo a Dona Inácia e a mulher com o menino doente e ‘emprestado.’ Queiroz, porém, abre uma janela para o jeito de pensar de vários tipos de pessoa durante uma época bastante difícil.

Observa-se a mentalidade de certas pessoas ricas quando tanto elas como as ao seu redor passam dificuldade. A Dona Maroca é exemplo de uma rica, ou ao menos ‘alguém que tem,’ que prefere soltar seu gado do que ajudar seus empregados por o dar-lhes. Seja por orgulho ou seja por nojo dos pobres, as ações dela trazem à luz o verdadeiro caráter dela.

Outro groupo semelhante a ela é o governo. Há uma seca dolorosa por toda a terra e muitos precisam deixar o sertão para campos mais férteis. Neste momento de tanta necessidade alguns aproveitam da situação. Chico Bento fala com o homem das passagens e se informa que já foram dadas todas, 50 vão a um homem rico que emprega rapazes. Quando Chico comenta com o Zacarias, o dono da loja diz que o governo “anda vendendo passagens a quem der mais” (35). Alguns dos com posição alta na sociedade abusam do seu poder para seu próprio benefício – e Quieroz revela isto claramente.

No decorrer do livro, Queiroz faz um psicanálise do personagem do Chico Bento. Ele é um homem que, por orgulho, não aceita a ajuda de ninguém mas acredita que deve fazer tudo por si. Mesmo que a família esteja com fome, sede e bastante necessidade, ele não pede leite do homem o tirando da vaca porque “a língua ainda orgulhosa endureceu na boca . . . [e] a vergonha da atitude nova o cobriu todo” (54). Depois da morte de Josias, observa-se um momento em que o orgulho dele cede ao extremo das circunstâncias, pois ele não hesita em matar a cabra nem em pedir a carne dela (71-72). Mais tarde o choque da perda do filho passa e o orgulho ressurge quando reconhece o delegado mas não fala nada (87-88). O jeito de Chico Bento não é incomum. Durante a Grande Depressão famílias americanas, que nunca haviam recebido nada de graça, acharam muito difícil chegar a pedir esmola pela primeira vez. Ele tipifica a canção que diz: “No céu entra quem merece, No mundo vale que tem . . . Eu como tenho vergonha, Não peço nada a ninguém . . . Que me parece quem pede, Ser cativo de quem tem . . .” (114). Ele é um exemplo perfeito das pessoas fortes daquela época que tiveram que enfrentar sua tribulação mais pesada: a humilhação.

Talvez as duas pessoas mais interessantes nesta história sejam o Vicente e a Conceição. Vicente toma orgulho no seu trabalho e no fato de que ele não se vende como o irmão. Conceição toma orgulho no fato de ser independente dos homens. Por causa desse orgulho eles não resolvem suas dúvidas e acabam se distanciando, mesmo que os dois tenham desejos de se casar. É um romance com que a autora consegue demonstrar os verdadeiros pensamentos dos corações e das mentes dos jovens.

Todos os personagens deste livro têm um jeito diferente de ser, mas um ramo comum entre a maioria é o orgulho de ser independente dos outros, independente do rico ou dos com maior ‘status’ na sociedade. Isto Rachel Queiroz pinta para todos com uma literatura clara e bonita.

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